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"O software livre veio para ficar"
Nesta entrevista, realizada ao final do IV Fórum de Tecnologia em Software Livre, em Curitiba, o diretor-presidente do Serpro destaca o quanto os programas desenvolvidos em código aberto já estão integrados ao dia a dia, seja embarcados em produtos como roteadores ou automóveis; seja como tecnologia disponível para a produção de filmes. E ressalta que informação é essencial: "O desconhecido é assustador. Na medida em que temos espaço para mostrar coisas que estão sendo feitas em software livre, as que já aconteceram e as que viabilizaram outras, podemos enfrentar esse receio".
Portal: O que significa para o Serpro apoiar um evento como o IV FTSL?
Mazoni: Apoiar um evento como este fórum realizado em Curitiba, que é uma cidade com uma característica forte de cooperação de software, significa reforçar nossa convicção de que através do compartilhamento de conhecimento nós avançamos muito mais rapidamente para soluções de qualidade. O Serpro não só tem a alegria de trabalhar com a ideia do software livre, como também de ajudar na permanência desse mundo como a grande alternativa para o desenvolvimento de soluções em tecnologia da informação. Fóruns como esse são o que consolidam e dão vida ao SL.
Portal: O software livre já se comprovou comercialmente viável?
Mazoni: Sem dúvida nenhuma. Temos soluções como gerenciadores de página na Internet, caso do Apache, que hoje já detém mais de 70% do mercado mundial de software. Toda a parte de endereçamento da rede, de DNS, é feito em software livre. O Linux é um exemplo de sucesso, não só nos desktops, mas fundamentalmente para soluções embarcadas, que estão nos automóveis, nos roteadores. Através dessa possibilidade de se fazer adaptações, de se usar os produtos de acordo com a nossa necessidade, o software livre se caracteriza não só como economicamente viável, mas também como importantes para a indústria. É um mundo muito focado nos negócios, na atividade final. Ele se viabiliza na medida em que participa da cadeia produtiva.
Portal: Você poderia citar outros exemplos?
Mazoni: No cinema, um grande exemplo é a Dreamworks. Na indústria automobilística, entre os mais variados exemplos que poderíamos citar estão a Ferrari, a GM, que se utilizam desta tecnologia. Tudo isso comprova que software livre é viável sim, só que ele está embutido nas demais indústrias.
Portal: O Serpro pode ser considerado um caso de sucesso de negócios usando software livre?
Mazoni: Sim, porque hoje os nossos principais desenvolvimentos estão baseados no Demoiselle, uma solução livre desenvolvida pelos técnicos do Serpro e que também gera SL. Fizemos o Porto Sem Papel, que reduz o tempo de atracamento de navios, reduzindo, portanto, o “custo Brasil”, desenvolvendo em Demoiselle. Assim como o novo Siafi, que gera todos os pagamentos e transferências que a União faz. Tudo isso faz do Serpro uma referência no Governo Federal, provando que o software livre é gerador de negócios no processo produtivo. E veio para ficar.
Portal: Eventos como o IV FTSL ajudam a divulgar o SL como uma alternativa de negócio economicamente viável?
Mazoni: Com certeza. Se as pessoas não conhecem algo, costumam ter medo. O desconhecido é assustador. Na medida em que temos espaço de divulgação para mostrar as coisas que estão sendo feitas, as que já aconteceram e as que viabilizaram outras, podemos enfrentar esse receio. Talvez ao assistir um filme como Shrek 2, as pessoas não saibam que aquilo tudo foi desenvolvido em SL. Saber coisas assim pode deixá-las mais tranquilas com uma solução em software livre. E algumas delas vão ficar, inclusive, muito motivadas a encontrar novas soluções.
Mazoni: Quando a gente interage com a comunidade através desses fóruns, mostrando tudo o que está ocorrendo e apontando as lacunas possíveis que vão ser geradoras de negócios para outras comunidades, então não só indivíduos, mas empresas e universidades também se motivam. O mundo do software livre é um mundo de conhecimento. Portanto, precisa que ele venha a ser transferido, trocado entre as pessoas; porque aí evoluímos para soluções mais robustas e qualificadas, consolidando essa grande alternativa tecnológica.