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Cada corpo, uma sentença
A vida de estelionatários internacionais se complicou: alguém que queira bancar o espião, entrando com identidade falsa no aeroporto de Dubai, por exemplo, assume hoje uma tarefa muitíssimo mais complicada do que seria anos atrás, devido ao país ter adotado reconhecimento de íris ligado à identificação de passageiros.
Representando uma das técnicas mais avançadas de biometria, o reconhecimento a partir da íris tem o inconveniente do alto custo. Já o grau de certeza oferecido é correspondente: praticamente impossível falsificar uma íris, ou mesmo se utilizar dela após cometer assassinato: pouco depois da morte, essa parte do olho começa a sofrer transformações que alterariam o reconhecimento.
Isso significa que no futuro próximo todos teremos nossos olhos vasculhados e registrados, do mesmo modo como hoje é comum a identificação de digitais? Não necessariamente, apontam especialistas. “A identificação pela íris oferece um alto grau de certeza, mas, ao mesmo tempo, pode ser considerada muito invasiva. Além disso, é custosa e, normalmente, mais demorada do que a identificação pela digital", explica Euclides Arcoverde, analista do Serpro e pesquisador na área de biometria. “Se tivermos uma situação de controle de acesso massivo, como o de um prédio público, faz sentido utilizar biometria digital. Já uma sala que contenha documentos de Estado, de cunho altamente sigiloso, mereceria o reconhecimento por íris, até por ser um local com muito menos circulação”, diz Arcoverde.
Mas mesmo a identificação por digitais pode ser considerada invasiva em um país como o Japão, por exemplo, onde o cuidado com a higiene das mãos é mais arraigado – é mais fácil encontrar uma pessoa que se enoje por ter de encostar o polegar em uma superfície onde várias outras pessoas já apoiaram o dedo, comenta Arcoverde.
“Cada opção biométrica tem suas vantagens e limitações”, destaca o especialista. “Identificação facial é menos invasiva, mas a posição espacial, o enfoque, as condições de iluminação e a expressão emocional podem acrescentar dificuldades e prolongar o tempo de identificação. Isso pode ser bem pouco conveniente se você pensar em um controle de acesso de um prédio movimentado”, exemplifica.
Além de características morfológicas, baseadas em formatos de partes do corpo, a biometria também pode se basear em características comportamentais como a voz e a maneira de assinar um documento. “Algoritmos são capazes de realizar autenticação de uma assinatura levando em conta os indícios de velocidade com que se escreve e pressão que se imprime à caneta em determinados pontos da assinatura”, aponta Arcoverde.
Biometrias complementares
A possibilidade de se valer de biometrias oferece opções cada vez mais refinadas e até inusitadas – como a que se faz analisando a vascularização das mãos, técnica em desenvolvimento em alguns centros de pesquisa. Mas também existem soluções práticas que se utilizam da combinação de dois ou mais métodos biométricos, o que eleva a precisão do reconhecimento. E é nessa categoria que se enquadra o desenvolvimento do DNI, Documento Nacional de Identificação, que substituirá o RG de cidadãos e cidadãs brasileiras: conterá tanto o reconhecimento digital quanto o reconhecimento facial.
O reconhecimento facial se baseia em algoritmos que leem distâncias entre pontos faciais (como, por exemplo, do nariz até a boca, ou entre os olhos) e também analisam a forma do rosto, além de identificar os pontos que são relevantes para a caracterização de determinada face. "O DataValid, por exemplo, é um produto desenvolvido pelo Serpro que oferece a possibilidade de verificar a semelhança entre a face de uma pessoa e uma foto dela que está disponível em um documento oficial, armazenada em base de dados do governo. Isso interessa a clientes do mercado público e também do mercado privado, como instituições bancárias por exemplo, pois minimiza o risco de fraudes", explica Gustavo Monti, da área responsável pelo desenvolvimento desse tipo de tecnologia.
Já em abril deste ano, o DataValid incorporará a tecnologia de identificação digital como novo componente do serviço. Instituições, como as financeiras, já demonstraram interesse em utilizar essa solução não apenas para apoiar a abertura de contas bancárias, mas também para a chamada “higienização” da base."Tratam-se de bases de dados legadas, ou seja, que a empresa já possui, e que serão comparadas com informações atuais oferecidas pelo DataValid", informa Daniel de Queiroga, também do time do Serpro. “Com isso é possível identificar o percentual de atualização que se pode realizar nessas bases legadas”, complementa.
Outros segmentos que podem se beneficiar ainda mais da segurança oferecida pelos dois tipos de biometria embarcados no DataValid são empresas de varejo, que oferecem crédito próprio ao consumidor; empresas telefônicas, especialmente para a abertura de linhas pós-paga; locadoras de veículos e o próprio governo, que tem necessidade de verificar a autenticidade de pessoas que recebem benefícios sociais, por exemplo.
Saiba mais sobre os serviços do Serpro que utilizam biometria acessando estes links: DataValid, Lançamento da DNI, Carteira de Motorista Digital.