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Unidade no desenvolvimento
Desenvolvido pelo Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro), o projeto leva o nome do modelo de aviação criado por Santos Dumont (1873-1932) em 1907. A homenagem ao projeto do inventor brasileiro foi feita porque os dados do avião, na época, foram amplamente divulgados sem restrição de uso, a exemplo do que pregam os defensores do software livre.
O Demoiselle foi o tema de diversas oficinas e palestras no II Congresso Internacional Software Livre e Governo Eletrônico (Consegi). O evento aconteceu de 26 a 28 de agosto, na Escola de Administração Fazendária (Esaf), no Jardim Botânico, e reuniu mais de 3,6 mil inscritos, entre estudantes, empresas, membros dos governos de diversos países e lideranças do software livre (veja o quadro).
A produção do Demoiselle começou em 2007, baseado em outro framework, criado pela Companhia de Informática do Paraná (Celepar). O Serpro reformulou os códigos e os divulgou em abril. De acordo com o diretor-presidente do órgão, Marcos Mazoni, torná-lo software livre garante economia de recursos. “Com o framework, é possível reciclar outros programas. Não precisamos começar um projeto do zero, mesmo que a ideia seja diferente”.
O projeto também ajudará empresas a desenvolver aplicativos para o governo. De acordo com Mazoni, 800 programadores foram treinados sobre o framework, e outros 2 mil estão em treinamento. “Há programas de qualificação de empresas que querem usar o Demoiselle. Isso melhora nossa relação com o setor privado”, diz Mazoni.
Um dos principais temas do debate no Consegi foi se o governo deve adotar software livre em todos os seus sistemas. “Tem que haver um equilíbrio entre software livre e privado. Quando se contrata alguém de fora, o suporte a essas soluções fica mais caro”, explica Mazoni. O analista de desenvolvimento de sistemas do Serpro Flávio Gomes da Silva Lisboa, integrante do projeto Demoiselle desde 2008, apoia a diversificação. “Nunca é bom que o governo dependa de um só fornecedor”, afirma.
De acordo com Lisboa, o framework ajudará, à primeira vista, a operação entre diferentes aplicativos do governo. Como é muito difícil fazer com que todos migrem de uma vez, a solução é criar uma interface que converse com todos eles. “Será possível, por exemplo, que um cartório em Uruguaiana (RS) acesse dados de um cidadão registrado em Quixeramobim (CE)”, explica o analista.
Lisboa também espera que o Demoiselle atenda ao mercado de pequenas empresas e recém-formados na área. “Qualquer desenvolvedor independente pode pegar o código. Isso é bom para quem precisa de ferramentas para desenvolver e não tem.”
1 - Desenvolvendo programas
O framework é um programa que ajuda a desenvolver outros programas. Ele traz elementos que são usados em vários softwares diferentes, tornando-se em uma interface comum, independentemente do sistema que esteja sendo acessado. Com isso, o programador ganha mais tempo para produzir aplicativos de melhor qualidade
Palestrantes
Richard Stallman
Presidente da Fundação Software Livre e criador do movimento Software Livre. No evento, falou sobre programas abertos, educação livre e cultura compartilhada
Michael Tiemann
Vice-presidente para assuntos de código aberto da Red Hat. O tema foi a Open Source Initiative (OSI), entidade da qual é presidente
Nagarjuna G
Presidente da Free Software Foundation da India. Na palestra, licenças de software para uma sociedade livre
Marcos Mazoni
Presidente do Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). No tema, casos de sucesso de software livre no governo
Sérgio Amadeu da Silveira
Sociólogo e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo e defensor do software livre no Brasil. No evento, debateu sobre comunidades virtuais e software livre.
Correio Braziliense, Informática, 1 de setembro de 2009