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“Stalin adoraria um sistema desses”
“Não ponham minhas fotos no Facebook”, pediu mais de uma vez Richard Stallman no lançamento oficial do próximo Fórum Internacional de Software Livre (Fisl), que ocorrerá de 25 a 28 de julho deste ano em Porto Alegre. A cerimônia foi realizada ontem, 4, no Palácio Piratini, sede do governo do Rio Grande do Sul. Estiveram presentes o governador Tarso Genro e o ativista Marcelo Branco, dentre outras personalidades.
Conhecido como pai do movimento a favor do software livre, Stallman discorreu sobre liberdade digital a partir de uma estratégia de defesa. Em sua visão, a rede mundial está ameaçada por vigilância, uso desautorizado de dados e privação de acesso a informações por meio do uso de filtros.
Criador do Projeto GNU, o ativista argumentou que Josef Stalin adoraria ter a seu dispor um sistema como a internet atual e suas redes sociais, que permitem identificar padrões de comportamento, saber o que pessoas e grupos estão pensando e até mesmo localizá-las com exatidão a partir de celulares com GPS. Criticou o uso que, segundo ele, empresas proprietárias de redes sociais fazem dos dados de seus usuários, não apenas vendendo-os com objetivos comerciais, mas também políticos. Para Stallman, tais redes são “grandes sistemas de vigilância” e, a pretexto do combate ao terrorismo, governos de vários países estariam utilizando-as para localizar e impedir não só terroristas mas até mesmo cidadãos que se organizam para protestos pacíficos, desarticulando manifestações políticas legítimas antes que aconteçam. “Estão utilizando nossa tecnologia contra nós”, ressaltou.
O palestrante também colocou em mira o uso de filtros que restringem o acesso da população a conteúdos da internet. Segundo Stallman, não apenas nações reconhecidamente autoritárias utilizam tal subterfúgio, mas também países como a Dinamarca, por exemplo, cujos “filtros secretos” só foram descobertos a partir das revelações da WikiLeaks.
Mais ativistas do que programadores
Frente a tantas ameaças à liberdade digital, Stallman conclui que movimentos como o de software livre “precisam mais de ativistas do que de programadores”, frisando que, obviamente, o papel destes últimos é fundamental. Mas pessoas também comprometidas com o aspecto político seriam essenciais para oferecer resistência aos avanços contra direitos de usuários e cidadãos.
A opinião foi compartilhada pelo ativista Marcelo Branco, ex-coordenador do Fisl, que sucedeu Stallman como orador na solenidade. Segundo Branco, “três grandes grupos ameaçam a liberdade da rede: as companhias de telefonia; a 'indústria do copyright' -gravadoras, editoras e companhias cinematográficas; e as empresas 'da nova ordem', como Google, Facebook e Twitter”, enumerou.
Na visão de Branco, as chamadas "teles" ameaçam a liberdade da internet ao tentarem acabar com a neutralidade da rede, impingindo restrições políticas e comerciais aos fluxos de dados que trafegam nas vias digitais. Já as empresas baseadas em copyright procurariam vigiar a rede e aprovar legislações que permitam a retirada de conteúdos acusados de violadores dos direitos autorais, mesmo sem mandado judicial, pela simples denúncia. Por último, o ativista enfocou os interesses das novas companhias do mundo digital, que, apesar de defenderem livre circulação de informações, ameaçam a liberdade ao utilizarem dados pessoais para fins comerciais e políticos.