General
Aumenta o leque de profissionais virtuais
Autor de frases memoráveis como essa, o guru da administração Peter Drucker (1909/2005), que escreveu mais de 20 livros e tem até hoje uma grande influência nos destinos da administração mundial, através de suas idéias modernas, arrojadas e inovadoras, já pressentia que o home office, o trabalho remoto, iria rapidamente deixar de ser uma excentricidade e se tornar um crescente modus vivendi corporativo. Idéia que começou a vigorar nos anos 1990, a prática foi no princípio exercida por profissionais liberais (arquitetos, por exemplo) e trabalhadores free-lancers, mas hoje já está incorporada ao organograma de muitas empresas, especialmente globais.
Leila Prati, gerente global de marketing em lubrificantes para o varejo da Shell, há três anos deixou o escritório da empresa na Barra, Rio de Janeiro, para, de casa, comandar uma rede mundial. "Não tem sentido eu trabalhar em um escritório clássico, já que minha equipe está espalhada pelo mundo e jamais poderei reuni-la num mesmo espaço físico", diz. "De casa, posso fazer uma reunião com Singapura às 5 horas da manhã, enquanto tomo confortavelmente o café da manhã, depois esperar o ônibus escolar com minhas filhas e em seguida continuar on-line com a empresa. É um ganho de tempo e de qualidade de vida, o que se reflete em produtividade."
Para ela, o trabalho virtual é uma decorrência da globalização e não tem retorno. "A Shell, como outras empresas globais, tem uma política para home office", explica Leila, que tem em casa toda a infra-estrutura de que necessita. "Estou sempre em contato com a matriz por banda larga, MSM e ainda telefone e celular. É claro que às vezes sinto falta do cafezinho, do contato pessoal, mas não ter que enfrentar congestionamentos, ver diminuidos os problemas de segurança e ainda sem aquele sentimento de culpa de mãe que trabalha até tarde compensa."
O Serpro tem hoje 75 funcionários em seu programa de teletrabalho criado em 2005. O programa já representou, segundo pesquisa, um ganho em produtividade de 10,5% e uma economia em logística de 47,1%. Quem coordena o programa é Joselma Oliveira que o desenvolveu a pedido do próprio Serpro quando fazia uma pós-graduação paga pela empresa interessada em saber como se comportaria um programa desse tipo em uma empresa de TI e Comunicação. O que a princípio parece apenas uma simples questão de deslocamento físico, exige na verdade uma série de pressupostos a começar de adaptações na CLT.
"O Brasil ainda não tem uma regulamentação para o teletrabalho. O País precisa primeiro assinar a Convenção 177 da Organização Internacional do Trabalho (OIT)", conta Joselma. Para o programa do Serpro foram criados 23 instrumentos para adaptar as necessidades da empresa. A adesão é voluntária e não é fácil adquirir o status. São pelo menos três meses de avaliações que incluem um amplo perfil psicosocial a análise de mínimos detalhes. Por exemplo, marido e mulher não devem trabalhar ao mesmo tempo em casa para não desgastar a relação. Também é feita uma análise organométrica do espaço da casa do funcionário, antes da autorização.
"Uma vez por semana todos têm que vir à empresa fazer o social", diz Joselma. "Sempre fui um apaixonado pelo tema e por isso quis participar da experiência e estou gostando muito", conta Flavio Correia de Souza, técnico em informação do Serpro que trabalha com indicadores da regional de Brasília. "Com a tecnologia atual e com a metodologia de trabalho, o teletrabalho se revela mais produtivo. A experiência tem sido importante para o meu desenvolvimento, leio mais pois tenho mais horas disponíveis", comenta Souza, que montou um escritório isolado dentro da própria casa.
No exterior, o home office já abrange um grande número de pessoas. Nos Estados Unidos, o número cresceu bastante, especialmente depois do 11 setembro, alcançando 18% da força de trabalho. No Brasil esse número ainda é baixo, estimado pelo mercado em cerca de 3,5 milhões. "Esse número tende a crescer rapidamente, só faltam vencer, na verdade, barreiras culturais, afinal, qual empresa não quer reduzir drasticamente seus custos", diz Douglas Rivero, country manager da SonicWALL para América do Sul, empresa que cria soluções para que as corporações diminuam os riscos com os colaboradores remotos.
"Há muitos mecanismos para solucionar o problema da segurança que é ainda uma grande preocupação", diz Douglas, ele próprio um trabalhador remoto, que passa 98% do seu tempo, segundo diz, fora da empresa e na companhia do notebook.
Diferencial
Recentemente uma pesquisa da SonicWALL com 1.100 executivos dos Estados Unidos e Austrália mostrou que mais da metade dos entrevistados acreditam que a opção do trabalho remoto é um diferencial competitivo e um componente de motivação para os funcionários. Mais de um terço dos pesquisados possuem funcionários que trabalham fora do escritório 20% ou mais do tempo. Os principais motivos para essa opção de trabalho são motivação do funcionário (58%); aumento no preço dos combustíveis (34%), condições climáticas e trânsito (33%); e custo do espaço no escritório (32%).
Metade dos entrevistados disse que suas empresas também possuem políticas para os funcionários remotos. Apesar do crescente apoio a esse modelo de trabalho, os executivos identificaram algumas preocupações no gerenciamento dessa força de trabalho remota. Entre as três principais, mais de 20% dos entrevistados estão preocupação com a produtividade desses funcionários, apesar de que 34% dos executivos acreditarem que os trabalhadores remotos são mais produtivos; 15% acreditam que os funcionários remotos estão perdendo algum aspecto por não estarem fisicamente presentes no escritório e há preocupação especial com as possíveis brechas de segurança.
Gazeta Mercantil – SP, Regina Neves, 18 de outubro de 2007