General
Terceira idade na era virtual
O computador pode representar mais do que uma simples ocupação de tempo quando chega o momento de se aposentar. Das diferentes opções que oferece, a troca de informações com parentes e amigos se torna um dos principais atrativos para as pessoas que já passaram dos 60 anos. O números de adeptos nesta faixa etária só não é maior pela falta de familiaridade com as tecnologias oferecida pelo mundo virtual. Pesquisa realizada pelo Ibope revela que o número de usuários com mais de 60 anos saltou de 122 mil, em junho de 2003, para 260 mil, em agosto de 2007. Mais do que dobrou em quatro anos.
A professora aposentada Lea Abreu Faria, 68 anos, utiliza com freqüência a conta de e-mail e o programa MSN Messenger para conversar com amigos e filhos. Ela considera que a internet se tornou importante não só pela facilidade do acesso a um grande volume de informações, mas também por permitir uma constante comunicação entre as pessoas. "Além dos amigos que moram aqui em Brasília, converso sempre com parentes que moram em Minas Gerais. Uso a internet, por exemplo, para fazer contato com a minha sobrinha que vive em Uberlândia", diz.
Outro aspecto valorizado pela professora diz respeito ao aproveitamento do tempo livre diante do computador. "Como não tenho mais tantos compromissos, sempre que posso visito sites de notícias para me manter atualizada sabendo do que se passa pelo resto do mundo". Assim como ela, 7,9% dos internautas com mais de 60 anos utilizam o computador para a mesma finalidade.
Mas, dominar o computador não é tarefa fácil para quem é do tempo em que as máquinas eram manuais e uma rede virtual era uma coisa de que pouco se ouvia falar e que poucos achavam que um dia viraria realidade. Por isso, muitos precisam recorrer a cursos de informática para aprender a lidar com o PC e entrar na era virtual.
Controle
O controle do mouse é o primeiro obstáculo a ser ultrapassado pelos alunos da terceira idade da Dytz Informática e Automação, que oferece cursos específicos para a turma mais velha. Superada esta etapa, as aulas vão se tornando mais prazerosas, sendo direcionadas para a navegação pela web.
"Essa é a hora que eles se sentem mais estimulados. Ensinamos a abrir a própria conta de e-mail e logo eles estão querendo se comunicar com os amigos, fazer compras e marcar consultas com o médico", conta a instrutora do curso Mônica Dytz. Para ela, os alunos com mais de 60 anos têm despertado o interesse por sites e serviços que promovem a interação em tempo real. Entre eles, estão a página de relacionamento Orkut e os programas de telefonia pela internet, com o Skype. Segundo Mônica, a internet se tornou um meio de quebrar o isolamento de muitos idosos e elevar a auto-estima.
A pesquisa do Ibope mostra que em relação às pessoas com idade acima de 60 anos, as páginas eletrônicas mais acessadas são as de telefonia por IP, bancos, sites governamentais e notícias. Segundo o analista de Mídia do Ibope José Calazans, o que tem facilitado o crescimento do uso do computador pelas pessoas mais velhas é o aumento do número de conexões à internet em alta velocidade nas residências. "O acesso à banda larga vem incentivando os mais velhos a usar a internet", afirma.
Medo dos botões
Quem ainda não teve acesso ao computador e não faz a menor idéia de como funciona a máquina deve estar atento à escolha da forma como será apresentado ao mundo virtual. Em relação às pessoas da terceira idade, o cuidado deve ser ainda maior. Geralmente, é na fase de iniciação que as pessoas mais velhas encontram os maiores desafios.
De acordo com a instrutora Mônica Dytz, o processo de aprendizagem de pessoas mais velhas deve valorizar a motivação dos alunos e a paciência dos professores. E há opções para quem pode e não pode pagar. Os cursos variam entre R$ 400 (com aulas individuais) e R$ 300 (com aulas em grupo). Mas existem opções gratuitas.
"Nas aulas, a tendência do professor é seguir o ritmo do aluno. No início, eles acabam tendo é medo mesmo. É como se fosse um bloqueio. Mas, depois de algumas aulas, acabam percebendo a própria evolução, o que vai despertando a motivação e o interesse em continuar", afirma. Foi o que ocorreu com a professora aposentada Lea. Há cinco meses ela começou um curso básico de informática promovido gratuitamente pelo Serviço Federal de Processamento de Dados (Serpro). Agora, decidiu aperfeiçoar o uso das aplicações da internet fazendo um novo curso com aulas individuais. "Eu tinha, realmente, uma resistência a estas coisas de botão. Mas decidi que não ia ficar de fora. Um curso com professor exclusivo foi essencial para perder o medo do computador", disse.
Coordenador da Escola de Informática da Universidade de Brasília (UnB), o professor Nilton Almeida afirma que as dificuldades dos mais velhos em aprender começam em casa. "Os próprios filhos reconhecem que não têm paciência em ensinar. A Escola de Informática, segundo o professor da UnB, ofereceu, até hoje, cursos para mais de cem turmas formadas inteiramente por idosos. O objetivo de separar os alunos por faixa etária é aproximar aqueles que possuem o mesmo ritmo de aprendizagem.
Tempo a seu favor
Aluízio de Souza Lima, 73 anos, há anos acompanha de longe a mulher, Maria José Pinto Lima, 70, usando a internet. Na última semana, resolveu aprender a usar o computador. Em sua casa, é o único que não tem familiaridade com os serviços que a web oferece. Aluízio considera que, nesta fase da vida, o tempo está a seu favor. "Já há alguns anos que me aposentei. Desde então, eu tenho condições de fazer tudo com calma. Assim, a navegação pela internet não vai ser diferente", conta.
Em suas primeiras aulas, Aluízio afirma que, até então, nunca havia ligado um computador na vida. "Vejo que é uma possibilidade moderna de abrir a porta para o mundo. A partir de agora, quero aproveitar melhor o tempo que fico em casa sem fazer nada", conta o aposentado. Ao decidir sobre o direcionamento que pretende dar ao curso, Aluízio imagina as facilidades que terá com os sites de comércio eletrônico. "Vou poder aproveitar as promoções de passagens aéreas, fazer reservas em hotéis quando quiser viajar e suprir todas as necessidade que puder pelo mundo da internet", afirma.
A instrutora Mônica Dytz ressalta que as pessoas da terceira idade procuram os cursos de informática por se sentirem bastante incomodadas em não saber usar funções básicas do computador. "O computador não é apenas mais uma novidade do mundo da tecnologia. Quem não faz questão de usar, por exemplo, um forno microondas continua a vida normalmente, sem grandes dificuldades. Mas, neste caso, é diferente. Aqueles que não sabem usar o computador têm a sensação de terem se tornado analfabetos", afirma.
Jornal de Brasília – DF, 16 de outubro de 2007