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Inteligência Artificial
IA em Ação compartilha casos de sucesso e possibilidades da tecnologia para ampliar a acessibilidade e no combate a fraudes
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A segunda parte do evento IA em Ação: Transformando o Governo Brasileiro foi marcada por cinco palestras que discutiram temas como ferramentas de inteligência artificial, IA generativa, combate a fraudes e uso da tecnologia para deficientes visuais. O encontro da tarde da última terça-feira, 18, concluiu um dia de palestras promovido pelo Serpro e pela Secretaria de Governo Digital do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos.
“Foi possível percebermos como a IA pode revolucionar a prestação de serviços públicos no país”, anunciou o assessor da diretoria do Serpro, Sergio Kamache. “Muita gente tem certo receito quanto às mudanças trazidas por essa tecnologia, mas IA é simplesmente uma ferramenta que surge a partir de uma gigante capacidade de processar uma enorme quantidade de dados. No fim da história, a realização continua a ser humana, mas precisamos nos manter sempre atualizados”, alertou.
Na prática
No início das discussões da tarde, o gerente do Serpro e coordenador do Centro de Excelência e Ciência de Dados da empresa, Carlos Rodrigo Lima, mostrou como a IA pode apoiar o funcionalismo público em suas diversas frentes. Um dos exemplos foi o de um modelo de IA preditivo desenvolvido pela empresa que funcionou, na prática, como uma verdadeira equipe de assessores no apoio às decisões de um tribunal administrativo.
“A IA foi utilizada, inicialmente, para filtrar um conjunto de 80 mil processos que aguardavam julgamento. De saída, descobrimos que 60% não tinham sequer fundamento jurídico: eram receitas, extratos de textos e até mesmo rezas. Todo um material apresentado como estratégia para que o recorrente obtivesse algum ganho por decurso de prazo, entulhando o procedimento de avaliação de outros recursos sérios”, explicou Carlos Lima.
Em um segundo caso, a tecnologia foi utilizada para separar processos, agora com um aprendizado de máquina baseado em decisões anteriores do próprio órgão colegiado. “Outros processos puderam ser separados como deferidos ou indeferidos baseados na jurisprudência do órgãos. Mas não se trata de julgamento por máquina, já que sempre recomendamos a avaliação posterior por um ser humano”, explicou o gerente. Segundo o próprio tribunal administrativo, a utilização da tecnologia do Serpro deve reduzir o tempo de julgamento dos processos de seis anos para apenas um.
IA Generativa
Já o arquiteto de software do Serpro, Marlon Carvalho, reagiu ao “hype” de utilização da IA generativa (LLM) e trouxe uma avaliação, baseada na experiência de clientes da empresa, de diferentes cenários em que a tecnologia pode ser melhor utilizada. “A LLM tem a melhor performance nas áreas relacionadas a elaboração de textos, sendo provavelmente a melhor ferramenta. No entanto, a IA generativa não é necessariamente boa em matemática, já que seus resultados são não-determinísticos, ou seja, o mesmo prompt pode apresentar respostas diferentes, o que é um pecado para as ciências exatas”, avaliou.
Combate a fraudes
Alexandre Henrique Vieira, da Divisão de IA Antifraude da empresa, alertou que o crime, hoje em dia, pode ser feito “em home office”. No entanto, muitas dessas fraudes ocorridas em ambientes cibernéticos também podem ser evitadas com a utilização de IA. “As pessoas produzem dados pessoais não apenas estáticos, como os biométricos, mas também dinâmicos-comportamentais, como velocidade de digitação, inclinação do dispositivo, estilo de navegação. Esse segundo tipo de informações pode ser utilizado na criação de uma camada ‘silenciosa’ de cybersegurança, que pode fazer a verificação contínua da identidade do usuário”, explicou.
Alexandre apresentou dois projetos do Serpro de análise comportamental em dispositivos: um em celulares, o “Bioflix”, outro em estação de computadores, com análise de estilo de uso de teclado e mouse. “Tivemos bons resultados tanto com Bioflix, quanto com a análise de digitação. Apenas a análise de utilização do mouse é que continua desafiadora”, informou.
Tendências e aplicação assistiva
Já o doutor em ciências da computação e gerente do Serpro, Marcelo Pita, trouxe várias tendências para o mercado tecnológico trazidas por um relatório sobre o futuro do trabalho, publicado pelo Forum Econômico Mundial em janeiro deste ano. “Quando falamos sobre as tendências que vão transformar o ambiente de negócios até 2030, em primeiro temos IA, junto com sistemas autônomos e robótica.”, informou Pita. Apesar do dinamismo de setores como automotivo, telecomunicações e TIC, o setor público ficou em décimo lugar entre as categorias que mais devem passar a utilizar a IA nos próximos cinco anos.
Por fim, Sebastião Fonseca, da divisão de Soluções de Visão Computacional de Biometria da estatal de TI, apresentou o protótipo de um sistema que utiliza IA para permitir que pessoas com baixa visão possam “ouvir” o ambiente. “Tanto o Serpro como o governo como um todo precisam desenvolver soluções assim para quem precisa, já que esse tipo de tecnologia assistiva não costuma ser priorizada pelo mercado”, relatou.
O IA em ação é um evento que colabora com o Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA), que tem o objetivo de promover uma política pública genuinamente brasileira para o desenvolvimento dessa tecnologia. Um dos eixos do projeto é justamente o uso da IA para melhoria dos serviços públicos, tema que inspirou as palestras apresentadas.