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Mulheres na TI
Utilizar inteligência artificial vai resolver o seu problema?
“Engenharia de prompts é a arte e ciência para elaboração de perguntas (ou prompts) efetivas e direcionadas a modelos de IA para obter respostas mais precisas, relevantes e úteis”, esta foi a definição compartilhada pela analista de sistemas do Serpro, Daniele Farias, em sua palestra no 18º Women in Information Technology e 14º Fórum Meninas Digitais, que integram o 44º Congresso da Sociedade Brasileira de Computação (CSBC), realizado em Brasília.
A profissional que atua na área de design thinking, responsável por promover eventos de ideação e prototipação de soluções internas e para clientes da empresa, apresentou quais são as melhores práticas para elaborar prompts para o ChatGPT, incluindo clareza, especificidade, contextualização adequada e a construção de questões mais abertas e exploratórias. Contudo, a partir disso, Daniela Farias também propôs a reflexão sobre se estamos fazendo as perguntas certas para resolver os problemas que se apresentam, por exemplo, no atendimento a usuários e no apoio a clientes na identificação da melhor solução para os desafios enfrenados.
Ainda no contexto da inteligência artificial, Daniela aponta a necessidade de se aprofundar sobre a questão enfrentada. “Qual o problema que eu quero que a IA me ajude a resolver? É isso que faz com que eu tente mudar a minha pergunta para conseguir a melhor solução para o problema que eu tenho. Então, nós começamos sabendo qual é o nosso problema”, afirma a analista do Serpro.
“Eu vou aprender, vou refinar e vou perguntar de novo. E, eu vou ficar nesse processo iterativo, até chegar a uma melhor resposta para resolver o meu problema. Existe o problema, a solução e, no meio do caminho, eu preciso saber conversar. Preciso fazer com que esses dois lados se conversem”, acrescenta Daniele. E é nesse caminho que a analista complementa que é possível que a aplicação de uma inteligência artificial não seja a melhor resposta ao desafio, ainda que pareça hoje que a IA é a solução para tudo.
Prompt aplicado a humanos
Para Daniele Farias, é fundamental não colocar a resposta antes dessa busca completa da identificação do problema. Quando isso não acontece, em muitos casos, disponibiliza a solução, mas o cliente ou usuário não usa, ou começa a utilizar e depois para. “E por que isso acontece? Porque não está resolvendo o problema que ele tinha”, alerta a analista do Serpro.
A palestrante descreve que já lidou com situações nas quais um cliente precisava fazer com que as áreas técnica e de negócio melhorassem o diálogo. "Já vimos a equipe de negócio chegar dizendo que precisa uma solução de IA, sem achar que deve explicar por que precisa dela. Ou da área técnica já pensar numa solução tecnológica, sem entender plenamente o problema que deve ser resolvido. O primeiro passo é sensibilizar da necessidade de se aprofundar sobre as necessidades existentes antes de propor a solução”, avisa Daniele. Esse é o prompt aplicado a humanos.
Projetos malsucedidos de IA e design thinking
Uma informação bastante alarmante trazida por Daniele Farias é o quantitativo de projetos de IA que não são bem-sucedidos, que é de cerca de 85%. De acordo com ela, algumas razões para isso são: dados inadequados; problemas na acurácia; expectativas não realistas; escassez de talentos em IA; questões éticas, como a reprodução de preconceitos; e o não atendimento às necessidades dos clientes e usuários.
Em especial para esse último elemento, mas não apenas, Daniele falou como estratégias de design thinking podem ajudar a resolver, destacando o conceito de “duplo diamante”, uma estrutura visual desenvolvida pelo Design Council no Reino Unido para se chegar à solução de problemas de maneira eficaz
Ele é composto por dois diamantes consecutivos, cada um representando diferentes fases do processo de design, que são divididas em quatro etapas principais: Descoberta, para aprofundar o problema; Definição, que sintetiza as descobertas e define claramente o problema; Desenvolvimento, que explora ideias para gerar soluções; e Entrega, a implementação da solução, buscando garantir que atenda às necessidades.
Tudo isso se associa ao ciclo do design thinking de compreensão, exploração e materialização, que parte do entendimento dos usuários e definição do problema, passando por ideação, prototipação, testes e implementação, num giro contínuo para aprimorar a aplicabilidade da solução.
Para concluir, referenciando novamente o título da palestra, Daniele diz: “Eu tenho o cliente com o problema de um lado. Eu tenho time técnico com a solução, que pode ser de IA ou não, do outro. Mas o que é que eu quero? Eu quero uma solução efetiva para o problema. É no meio disso que eu tenho a engenharia de prompts aplicada a humanos”, declarou.
"É a gente saber fazer essa conversa, saber fazer esses dois lados se aproximarem para que a gente consiga soluções que de fato resolvam o problema. E aí a gente pode mudar aquele número de 85% de falha nos projetos de IA”, concluiu a analista do Serpro, Daniele Farias.
Sobre os eventos
O WIT – Women in Information Technology, realizado desde 2007, chega à sua décima oitava edição como uma iniciativa da Sociedade Brasileira de Computação (SBC) para discutir questões de gênero e tecnologia da informação (TI) no Brasil. O evento aborda histórias de sucesso, políticas de incentivo e formas de engajamento para atrair jovens, especialmente mulheres, às carreiras de TI.
O Fórum Meninas Digitais, parte das atividades do WIT desde 2011, integra o Programa Meninas Digitais da SBC, direcionado às alunas do ensino fundamental, médio e tecnológico, com o objetivo de motivá-las a seguir carreiras na área de informática e Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC).
Em sua quadragésima quarta edição, o Congresso da SBC, relevante evento de computação e TI da América Latina, tem como tema "Deserto Digital: O Mundo Desconectado e Não Visto". O CSBC reúne professores, alunos e profissionais do Brasil e do exterior para apresentar e discutir os avanços educacionais, científicos e tecnológicos nas diversas áreas da Computação, atraindo cerca de 2000 participantes em suas edições anuais.