O governo federal vai começar a utilizar IA generativa para permitir uma “pesquisa inteligente” sobre seus próprios normativos e regulamentações. O projeto-piloto, uma ação conjunta do Serpro e da Secretaria de Gestão de Pessoas (SGP), vai facilitar a compreensão de mais de 20 mil documentos que regem o dia a dia de mais de 1,3 milhão de servidores públicos do poder executivo.

“A pesquisa inteligente tem o potencial de mudar toda a forma do governo lidar com seu regramento jurídico. De início, a tecnologia vai ser usada como subsídio para a elaboração de notas técnicas, pareceres e demais documentos de respostas a consulta dos usuários do Sigepe, um aplicativo que já oferece sistemas e 170 serviços aos servidores públicos de todo o país", explica o presidente do Serpro, Alexandre Amorim.

"A chegada da IA no serviço público brasileiro contribuirá com a realização das diversas atividades e dos resultados a serem entregues à sociedade. Para fazer frente às complexas demandas e inovar na função pública, entendemos ser necessária a adoção de novas tecnologias e conhecimento aplicado de alta qualidade para desenhar ações que impactem processos concretos de formulação, implementação, monitoramento, avaliação e controle das políticas governamentais no Brasil", avalia o secretário de Gestão de Pessoas do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos, José Celso Cardoso Jr.

Como funciona

Na prática, o Serpro desenvolveu uma interface conversacional que responde a questionamentos e estará disponível no Sigepe. No app, os usuários poderão digitar suas perguntas usando linguagem natural, sem a necessidade de nenhum conhecimento prévio sobre qualquer norma ou legislação específica. A tecnologia é capaz de avaliar proposições, a partir de outras existentes, e também de aprender a partir das experiências com cada um dos usuários.

A ideia do piloto surgiu após uma oficina realizada entre o Serpro e a SGP, na qual foram discutidas tecnologias capazes de processar grandes volumes de documentos e responder de forma eficiente e contextualizada a perguntas sobre uma base de conhecimento. "O Serpro promove esse tipo de encontro para saber das as necessidades reais dos seus clientes e realizar uma prospecção das tecnologias que poderão ser úteis", explica Lindomar Oliveira, Gerente de Negócios da estatal. "O uso da IA foi analisado pelos times de áreas técnicas e chegou-se à conclusão de que vai garantir o aumento da eficiência e produtividade nas rotinas de gestão de pessoas", complementa.

IA generativa

A Inteligência Artificial Generativa, um ramo focado na criação de novos conteúdos a partir de dados existentes, utiliza técnicas avançadas de aprendizado de máquina, especialmente o chamado “deep learning”. É sistema que torna possível a geração de textos, imagens, músicas, vídeos e diversos outros tipos de conteúdo que imitam criações humanas. O GPT, um modelo de linguagem capaz de gerar e interpretar texto com alta semelhança à comunicação humana, é o exemplo mais conhecido, mas a capacidade dessa IA pode pode ser estendida para além do escopo da linguagem.

Além do piloto com a SGP, o Serpro começou a desenvolver projetos para outros órgãos públicos. A ideia é que a IA contribua  para o funcionamento de chatbots, sumarização e classificação de processos judiciais, além da análise de recursos administrativos, com sugestões de respostas para os gestores públicos.

Para essas iniciativas, a empresa pública criou uma IA generativa própria, o "Serpro LLM", um projeto que visa ofertar serviços hospedados em território nacional e em infraestrutura de governo. "Esses modelos podem ser usados em diversos tipos de iniciativas, em especial aquelas que necessitam processar dados sensíveis. Isso ajuda a garantir a soberania e governança das informações, proporcionando segurança e confiabilidade necessárias para o setor público e outras áreas estratégicas", avalia Ronaldo Agra, gerente de IA Generativa e Soluções de Linguagem Natural do Serpro.