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ESGtec
ESG impactará a metodologia de inovação em negócios do Serpro

Entrevista publicada originalmente em 26/9/2022
A pontuação do Serpro no Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE B3), da Bolsa de Valores do Brasil, indicou que o modelo de negócios da empresa tem um alto grau de aderência às agendas social e ambiental que compõem o ESG. Essa é a avaliação do superintendente de Inteligência de Negócio (Sunin), Alexandre Seabra Melo Fernandes, que também integra o Comitê criado para implementar e coordenar o ESGtec, agenda do Serpro que incorpora princípios e ações relacionadas às dimensões ecoambientais, sociais e de governança
Nessa nova conversa que integra a série de entrevistas do ESGtec, o superintendente Alexandre Seabra fala sobre como as soluções do Serpro já produzem impactos socioambientais positivos e sobre como as estratégias de inovação ainda vão incorporar mais elementos ESG na sua constituição.
Alexandre Seabra é formado em Ciência da Computação, pós-graduado em Engenharia de Software e ex-professor do Centro de Ensino Unificado do Distrito Federal - UDF. Ingressou no Serpro em 2009. Antes de se tornar superintendente de Inteligência de Negócio, chefiou a equipe de Arquitetura de Soluções e coordenou a equipe de Gestão de Demandas e Níveis de Serviço. Definiu e implantou o modelo de inovação baseado no stage-gate em 2016, como coordenador da área de Viabilidade de Novos Negócios, liderou a Gestão de Linhas de Negócio, a Aceleradora do Serpro e também a Superintendência de Gestão Comercial, Soluções Analíticas e Entrega de Serviços Digitais. Confira a entrevista.
Portal Serpro – Como você interpreta o impacto das soluções da empresa nos estudos de implantação do ESG no Serpro?
Alexandre Seabra - Na fase inicial de implantação do projeto ESG no Serpro, com o trabalho de levantamento de dados e de identificação das lacunas a serem superadas para atingirmos os 70% do índice ESG previsto no planejamento estratégico, tivemos uma grata surpresa que o modelo de negócios do Serpro é muito aderente a essa agenda, porque já tem uma pegada social e ambiental muito forte. O que, de largada, contribuiu bastante com a nossa pontuação no Indicador de Sustentabilidade (o ISE foi criado pela B3 e adotada pelo Serpro para medir o status e a evolução da empresa no tema). Isso foi bastante satisfatório.
O Serpro, na sua missão de conectar governo e sociedade, declara que, além de atender ao governo, ele vai inovar e ofertar para sociedade serviços que simplifiquem a vida do cidadão, desburocratizem o Estado, facilitem os processos de onboarding, de validação de informações, de fornecimento de crédito e também a garantia das operações de seguro. Assim, tem toda essa variedade de possibilidades que a empresa oferta e a receita que o Serpro recebe dessa cadeia produtiva se reverte em desoneração para o governo. Sobra mais recurso para o governo executar suas políticas públicas.
Portal – Mas como isso impacta o trabalho do ESG?
Seabra - A empresa posiciona-se no seu modelo de negócio como viabilizador de políticas públicas. Isso é muito relevante para a questão social do Brasil como um todo e nós nos tornamos um ator muito importante de provedor de tecnologia que dá suporte a essas grandes políticas governamentais. O que o Serpro faz, nos serviços ou no atendimento às políticas públicas, tudo isso é voltado a proporcionar benefícios pra sociedade, melhorar arrecadação, fiscalização.
"O que o Serpro faz, nos serviços ou no atendimento às políticas públicas, tudo isso é voltado a proporcionar benefícios pra sociedade, melhorar arrecadação, fiscalização"
Nós estamos falando de governo como plataforma. O Serpro cria e disponibiliza infraestrutura e serviços para que a iniciativa privada tenha possibilidade de criar serviços melhores, com mais segurança, melhorando o ecossistema econômico, tendo acesso a informações oficiais de governo, isso é o core do que chamamos de governo como plataforma. E é também por isso que o modelo de negócio pontua tão bem no índice ESG da B3. Não só porque nós somos uma empresa de TI e se você pegar esse mercado, a tecnologia existe para reduzir consumo de papel, para desburocratizar, melhorar a logística e a eficiência.
Portal – E quais são os desafios ESG no mercado de TI?
Seabra - A TI tende a melhorar a questão de consumo de recursos, o business de TI tende a ser verde, logicamente com muitos pontos ainda a melhorar, para que metas importantes sejam alcançadas, como a diminuição da emissão de carbono. Ainda há no Serpro e no mercado de TI um consumo alto de energia. A nossa infraestrutura já está atuando para que o nosso centro de dados tenha energia verde, renovável.
Portal – As soluções do Serpro podem contribuir diretamente com as questões sociais ou ambientais?
Seabra - Recentemente, o Serpro obteve novos clientes, como o Ibama. A empresa agora investe forte em soluções para monitorar e fiscalizar a biodiversidade, como rastreamento de madeiras. Também avançamos no relacionamento com o Ministério da Agricultura, com o Incra, dando segurança e apoiando o mapeamento territorial brasileiro. Tecnologia como suporte relevante para políticas como a de emissão de crédito de carbono. Temos muitas potencialidades, serviços que vão trazer muitos benefícios sociais.
Um projeto que merece bastante destaque é a Plataforma CBIO. Trata-se de um produto maravilhoso porque a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis) que regula o tema, não precisou investir nem um real para esta política pública. Foi o Serpro quem viabilizou todo o projeto e sua sustentabilidade econômica veio das produtoras de biocombustíveis que pagam para a geração do crédito de carbono, o que também gera dinheiro para elas mesmas.
"Estamos incorporando discussões que explicitam os valores, vantagens e benefícios ESG de cada projeto no próprio fluxo de criação do produto"
Portal – Quais desafios o ESGtec traz para o negócio?
Seabra - Apesar de estarmos com uma pontuação muito boa no índice, o trabalho não está 100% feito. Uma das ações do plano já em andamento é a evolução dos nossos processos de inovação, com a inclusão do Canvas do ESG dentro do contexto da ideação, da criação de modelos de negócio. Estamos incorporando discussões que explicitam os valores, vantagens e benefícios ESG de cada projeto no próprio fluxo de criação do produto, expondo isso como um dos elementos do processo decisório, para levar à frente ou não o projeto em discussão.
O passo a passo da inovação começa na maturação da ideia, passa pela criação do conceito, validação e a construção da solução. Para passar por esses processos, precisamos pedir a autorização para o comitê estratégico de negócio, que vai avaliar também os elementos de ESG. De certa maneira, nosso negócio sempre foi fazer um país melhor, mas a gente não trazia isso de maneira explícita, como faremos agora com a influência do ESGtec.
Portal – Quais devem ser os ganhos dessa mudança?
Seabra - Os ganhos serão de maior consciência de todos os envolvidos e ajudando até a preparar o conteúdo de comunicação, com a declaração do valor para o cliente, para a sociedade, melhorando a maneira como gente divulga e dialoga com o cidadão. Repito, muita coisa a gente já fazia, mas agora faremos de maneira consciente e explícita. Esse é o grande benefício dessa evolução. E vamos sair com esse novo modelo ainda no segundo semestre de 2022.
"Nós acreditamos que a melhoria do processo de inovação, adicionando a temática ESG, vai qualificar também a nossa comunicação, no lançamento do produto e do posicionamento do Serpro no relacionamento com a sociedade"
Portal – Como o ESG muda o processo de inovação?
Seabra - No processo do Serpro, uma ideia, para ser lançada, passa por marcos de governança. É a empresa dizendo: “nós vamos entrar nesse mercado mesmo, faz sentido no nosso modelo de negócio”. Nesse ponto, a proposta é avaliada pelas diretorias envolvidas com o negócio: Desenvolvimento, Clientes e Operações. Estamos incorporando o Canvas ESG desde a fase de amadurecimento da ideia, passando pela de definição conceitual do produto, até que se inicie o ciclo de vida dele, sendo relevante nas etapas de aprovação (chamadas de “gates” na metodologia de inovação em negócios do Serpro).
O proponente e a equipe que está discutindo já trabalham com as ferramentas de ideação de mercado: business model canvas, mapa de empatia, problem-solution fit. Agora, soma-se mais uma ferramenta: entra o Canvas ESG. A partir disso, o idealizador e as pessoas envolvidas vão discutir quais benefícios a solução trará, não apenas para os clientes, mas também os impactos positivos para a sociedade e para o meio ambiente.
Portal – A partir disso que se modificará a forma de divulgar as soluções do Serpro?
Seabra - Esse conjunto de elementos passa a fazer parte do modelo de negócio daquela proposta em andamento e fará parte também do processo de deliberação do Comitê Estratégico de Negócio. Na fase de construção da solução, que inclui o detalhamento do plano de negócio, formato de faturamento, dentre outras questões, os itens apontados como valores vão fundamentar também a estratégia de comunicação e marketing, pra que a gente faça uma divulgação ainda mais forte nos termos da sustentabilidade e das questões sociais e ambientais.
Nós acreditamos que a melhoria do processo de inovação, adicionando a temática ESG, vai qualificar também a nossa comunicação, no lançamento do produto e do posicionamento do Serpro no relacionamento com a sociedade.