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Equidade
Mulheres foram pioneiras na informática, mas agora são minoria
No Brasil, mulheres representam cerca de 57% das ingressantes no ensino superior, conforme dados do instituto de pesquisa ligado ao Ministério da Educação, em seu último levantamento (2016). Ainda assim, elas estão longe de representar número equivalente de alunas nas carreiras de engenharias, ciências exatas e ciências da terra.
Dentro desse quadro de sub-representação, há um fator diferenciador para a área de TI. A proporção de mulheres que atuam nesse campo cresceu menos, ao longo dos anos, do que em outras áreas exatas, conforme bem se observa neste material produzido pelo podcast da National Public Radio (NPR), citado pelo Jornal da USP. Em relação aos cursos de medicina, direito e física, nos Estados Unidos, a presença feminina nos cursos de TI evoluem em paralelo até 1984, mas têm queda abrupta a partir desse ano, distanciando-se das outras áreas. Em outras palavras: de 1960 a 1984, cresce o número de mulheres médicas, advogadas, físicas e de profissionais de TI. De 1984 a 2014, época da produção do estudo, as profissionais dedicadas à tecnologia da informação passam a deixar de ganhar espaço tido como “masculino”, apesar de suas colegas de outras áreas continuarem a fazê-lo.
Na abordagem do Jornal da USP publicado em março de 2018, há um movimento similar observado nas turmas de Ciências da Computação: “na década de 1970, cerca de 70% dos alunos do curso de Ciências da Computação, na USP, eram mulheres; hoje são 15%”, destaca o veículo.
A explicação aventada pela instituição é que antes de se se tornar um objeto pessoal, ou, pelo menos, doméstico, o computador era visto como ferramenta para realizar cálculos e processamento de dados, atividades associadas à função de secretariado. “A sua chegada na casa das pessoas, por meio de empresas como IBM e Apple, popularizou o uso pessoal das máquinas, principalmente, com a finalidade lúdica dos jogos”, destaca o informativo.
Computadores e jogos, a partir dessa década, tornam-se assuntos do universo masculino na maioria dos lares. Em consequência, a predominância de homens nos cursos acabam por afastar as mulheres da área, em um círculo vicioso difícil de romper.
Mas não seriam, simplesmente, as mulheres menos “propensas” a estarem presentes em áreas de exatas, e, especialmente, nas áreas de tecnologia?
O que ocorre na Malásia apresenta um bom “grupo de controle” para se contrapor a essa possibilidade: nesse país, 51% das pessoas que trabalham em TI são mulheres. Esse foi objeto de estudo de Ulf Mellström em Masculinity, power and technology: a Malaysian ethnography, publicado em 2013. Ele aponta que existem mais malasianas na TI por um motivo sexista: seria muito forte, na cultura local, a noção de considerar que trabalhos realizados ao ar livre são próprios de homens, e trabalhos realizados em ambientes fechados são adequados para mulheres. De forma que, ironicamente, o sexismo trouxe igualdade de gêneros no desempenho dessas funções.
Dados positivos
Conforme já noticiado, o Serpro tem programa específico para colaborar no acesso das mulheres às carreiras de tecnologia, o Menina de TI. Outras empresas caminham na mesma direção e há várias organizações independentes dedicadas a aumentar o número de mulheres na tecnologia.
O esforço generalizado parece ter gerado algumas boas notícias. Em nível mundial, de acordo com pesquisa realizada pelo Linkedin, tecnologia foi uma área que teve 18% de aumento no número de mulheres trazidas para ocupar cargos de liderança entre 2008 e 2016, sendo o setor que representou maior aumento de contratações nessa faixa. Ainda assim, as mulheres representam 20,6% dos cargos de chefia nas empresas. É uma proporção menor do que a média geral: mulheres representam 25% das posições de liderança no mundo, um número que indica um caminho razoável a percorrer até se conquistar paridade. Estamos progredindo, mas há muito o que caminhar até que venha, de fato, a igualdade.