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Responsabilidade Social
"Não era para ser depois. Era para Agora"

Matéria publicada na Revista Tema — Edição 239 - Fev/2025
Em 2023, com o início do novo governo do Brasil, o Serpro passou por diversas transformações. Uma delas foi a criação do programa “Agora”, lançado em junho, durante Cerimônia realizada no Palácio do Planalto na celebração do Dia Internacional do Orgulho LGBTQIA+. Dividido em duas frentes, o primeiro edital de investimento social divulgado foi o Agora 3T (Tecnologia para pessoas Trans e Travesti), com o objetivo de promover iniciativas relacionadas à área de TI que tenham um impacto social positivo na vida dessas comunidades.
“Essa é a nossa forma de incentivar projetos que promovam a inclusão sociodigital, utilizando a tecnologia como meio para promover a igualdade de oportunidades e melhorar a qualidade de vida de pessoas trans e travestis”, declarou o presidente do Serpro, Alexandre Amorim, na ocasião do lançamento. Loyanne Salles, superintendente de Comunicação, Marketing e Responsabilidade Social da estatal, área responsável pelo Programa de Investimento Social, afirma que todo trabalho de patrocínio social da empresa deve atender grupos minorizados. “Nesse programa, colocamos em prática as ações afirmativas, oferecendo mais a quem mais necessita. Nosso foco é gerar impacto na sociedade transformando vidas e construindo caminhos para comunidades invisibilizadas, por meio da inclusão sociodigital”, afirmou.
Para Loyanne, uma empresa pública como o Serpro tem papel decisivo para o desenvolvimento da sociedade. “Trago uma reflexão do nosso papel como agente público: temos uma responsabilidade ainda maior com o país. Trabalhamos para a sociedade, em prol da sociedade, mas também temos que devolver a essa mesma sociedade, de forma muito direta e palpável aqueles investimentos que existem nas estatais brasileiras”, afirmou.
Primeiro edital destinou R$ 1 milhão de reais
No primeiro edital, a empresa destinou R$ 1 milhão de reais em Investimento Social para que Organizações da Sociedade Civil (OSC) e Organizações Não Governamentais (ONG) sem fins lucrativos pudessem implementar iniciativas no âmbito educacional ou ao desenvolvimento de tecnologia digital. A urgência em gerar resultados foi a força motriz por trás do programa. “Queríamos gerar impacto o mais rápido possível. Não era para depois, não era para o ano que vem, era agora”, destacou Loyanne.
Além do “Agora 3T”, o Serpro lançou o “Agora 2M”, o segundo pilar do Programa Agora. Apresentado durante a participação da empresa na Marcha das Margaridas, em agosto de 2023, o programa é destinado a mulheres de grupos minorizados, como negras, indígenas e quilombolas. O edital do programa recebeu 165 propostas e, ao longo de 2024, os contratos de 10 projetos foram assinados.
Agora 2M: hora de incluir mais mulheres, hora de incluir todas
O primeiro projeto patrocinado pelo Agora 2M é o Mulheres in Tech (MIT), um curso que abrange programação front-end e desenvolvimento socioemocional, com o objetivo de fortalecer as competências de 50 mulheres em situação de vulnerabilidade nas regiões Norte e Nordeste do Brasil. O curso é fornecido pela ONG Fly Educação, que já impactou mais de 8 mil pessoas nos últimos 10 anos. Fundada por uma mulher venezuelana refugiada, a Fly tem um histórico de capacitação voltado à inclusão social.
Clarice Carvalho, coordenadora de Projetos Sociais do MIT, citou uma pesquisa de 2023, onde 54% das alunas formadas pelo programa conseguiram trabalho na área tecnológica. “Com essa 17ª turma, queremos empoderar mulheres do Norte e Nordeste, reduzindo distâncias e oferecendo oportunidades que antes eram escassas”, afirmou Clarice.
Regina Faria ressaltou a relevância do programa. “Iniciativas como essa são fundamentais para que mulheres, cis ou trans, possam acessar oportunidades no mercado de trabalho, evitando viés inconsciente nas seleções, uma condição muitas vezes impeditiva para a entrada de mais mulheres no setor de tecnologia”, disse.
Outros três projetos sociais foram contemplados pelo “2M”. Um deles é o Viva Babaçu, promovido pela Alternativas para a Pequena Agricultura no Tocantins, APATO, que visa apoiar as quebradeiras de coco babaçu. A iniciativa planeja criar um aplicativo e um banco de dados para facilitar a gestão dos processos produtivos das comunidades. “Com essa ferramenta, buscamos aumentar a renda dessas comunidades e fortalecer sua capacidade de influenciar políticas públicas”, disse Francisco Gomes da Silva, proponente do projeto.
Outra iniciativa é o Conexão DonasTech, realizado pela Associação para Promoção do Desenvolvimento Sustentável Humanizado (Instituto Bemmaker), em Vitória da Conquista, na Bahia. Com o foco na capacitação de mulheres jovens e adolescentes, o projeto oferece oficinas de letramento digital, programação, robótica educativa e iniciação audiovisual. “Nosso projeto também inclui suporte psicossocial e mentoria, visando o empoderamento das participantes”, disse Aline Mendes Vieiras, responsável pelo projeto.
Por fim, em Campina Grande, na Paraíba, o Plataforma Aberta Mulheres de Peito, da Associação Mulheres de Peito, tem como missão melhorar a saúde das mulheres vulneráveis, especialmente as com risco de câncer de mama. O projeto consiste no desenvolvimento de uma plataforma digital com algoritmos inteligentes para identificar e acompanhar pacientes, facilitando o acesso a exames e cuidados médicos. Inicialmente, a ação se concentra na doação de exames e na busca ativa por mulheres com sintomas, mas com o tempo, expandirá para a capacitação de profissionais de saúde e a integração com dados públicos do Sistema Único de Saúde, o SUS.

Agora 3T: empoderamento de trans e travestis
Um dos projetos contemplados pelo “3T” foi o “ModaVerso”, promovido pelo coletivo Trans Sol, de São Paulo. Trata-se de um curso que prepara para o uso de tecnologia, por meio do software CLO3D, que transforma o processo de criação de moda: moldes que eram feitos a mão, com papel, giz e tesoura, em cada um dos tamanhos (36, 38, etc), passam a ser feitos digitalmente e permitindo visualização em 3D para verificar caimento. Além disso, o curso também introduzirá a perspectiva de produção de modelos para avatares, personagens virtuais, um nicho de grande potencial.
“O diferencial do projeto está em seu foco na inclusão, pois pessoas trans e travestis serão capacitadas não apenas para usar essas ferramentas, mas também para se profissionalizarem no setor e se tornarem formadoras de outras pessoas”, declarou Regina Faria, gerente de Responsabilidade Social do Serpro.
Rita Conceição, diretora fundadora da ONG Ruas da Bahia, está à frente do projeto Transversalizando, também contemplado pelo Agora 3T. “Nossa ONG nasceu para combater o empobrecimento das mulheres negras de Salvador. Com a feminilização da pobreza, também abraçamos a causa da comunidade trans e travesti”, explicou. “Em parceria com o Serpro, ofereceremos cursos de letramento digital e tecnologia sociodigital para que essa comunidade tenha acesso ao conhecimento tecnológico e ao mercado de trabalho com dignidade, respeito e cidadania. Parece simples, mas percebemos que há um processo de discriminação muito forte e essas pessoas são excluídas até quando têm a oportunidade de se transformar numa excelente profissional de tecnologia”, ponderou Rita.
O terceiro projeto do “3T” é o Miga Tech, desenvolvido pela Associação Manifesta LGBT+ em Manaus, que tem como objetivo promover a inclusão sociodigital por meio de oficinas de letramento digital e um curso intermediário de Scrum. Já o Robótica FMT, liderado pela Associação de Ensino Social Profissionalizante (ESPRO), com sede em São Paulo, oferece a jovens trans e travestis, de 14 a 23 anos, a formação teórica e prática em robótica. O Traves-TI, realizado pelo Grupo de Resistência Asa Branca (GRAB) em Fortaleza, busca capacitar 20 pessoas, incluindo profissionais do sexo, em letramento digital. O curso abrange habilidades como informática básica, redes sociais, marketing digital e fotografia, com o intuito de melhorar a qualidade de vida e promover a independência financeira das participantes.
Hub Serpro: mulheres na tecnologia, por meio de esports
Além do programa Agora, em 2024, o Serpro também expandiu suas iniciativas de responsabilidade social, anunciando seu primeiro projeto de eSports: o Hub Serpro R6. Com o objetivo de incentivar a presença feminina na tecnologia, a empresa patrocinou a criação do único hub exclusivo para mulheres jogarem Rainbow Six Siege na América Latina. Lançado em julho pela w7m Esports – uma das principais organizações de esportes eletrônicos do país – em parceria com a Ubisoft, o projeto trata de uma plataforma exclusiva para mulheres jogarem Rainbow Six: Siege (R6).
O ambiente viabiliza que as jogadoras tenham um espaço seguro e livre de assédio e misoginia, um dos motivos que afastam o público feminino desses tipos de jogos. Loyanne destacou a importância do projeto: “Para nós, é uma honra apoiar essa iniciativa pioneira no R6. Temos um forte compromisso com a diversidade e com o aumento da participação de mulheres na tecnologia, seja no desenvolvimento, seja na área Gamer. Acreditamos que a tecnologia se torna mais plural e melhor desenvolvida quando há diversidade”, declarou na ocasião do lançamento.
O Hub Serpro foi considerado um grande acerto em 2024. Com apenas cinco meses desde sua criação, o programa proporcionou mais de 200 mentorias e R$ 150 mil em prêmios para mais de 120 jogadoras. “A ideia é inspirar outras mulheres a conhecerem as possibilidades de atuação profissional nesse segmento. Além de potencializar a performance de novas jogadoras por meio da mentoria com atletas vencedoras da modalidade”, afirma Loyanne.

Arena Gamer e Rouanet Nordeste
Em dezembro, a w7m realizou em São Paulo o evento Hub Masters, que marcou o fim do primeiro ciclo do projeto, que contou com dez temporadas. Na ocasião, as dez jogadoras que melhor pontuaram durante as temporadas participaram do evento, que também celebrou os 60 anos do Serpro. “Com esse patrocínio, tentamos rejuvenescer a nossa marca, aproximando o Serpro de pessoas mais jovens. Também fizemos isso em Recife em 2024, com o patrocínio da área Gamer, no Rec’n’play. Foram 4.400 pessoas que passaram por dia lá, ao longo de quase uma semana”, afirmou a superintendente.
“Diversas entidades estão liderando projetos inovadores destinados a capacitar e promover a inclusão social de grupos vulneráveis no Brasil. E a tecnologia tem um papel fundamental na promoção da igualdade e empoderamento dessas comunidades”, celebrou Regina Faria. Além de projetos de inclusão sociodigital, o Serpro foi a primeira estatal a assinar o Programa Rouanet Nordeste, que destinará R$ 5 milhões de isenção fiscal para iniciativas culturais. “Há sessenta anos o Serpro trabalha em prol da sociedade brasileira, mas também muito recebe dela. Nada mais justo que retribuir com iniciativas que colaborem para a redução de desigualdades”, concluiu.