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Nunca é tarde para estudar
Como diria Cazuza, “o tempo não pára”. E em termos de conhecimento, não há limite de idade para se aperfeiçoar. Nada melhor que uma rotina livre com tempo de sobra para freqüentar cursos e graduações. Assim, os idosos podem aproveitar a aposentadoria para resgatar desejos antigos, entre eles o de concluir os estudos e obter um diploma.
De acordo com relatório do IBGE de 2006, Brasília tem cerca de 150 mil idosos. O que equivale a 6,4% da população local. Entre eles, 47,1% são aposentados e 23,9% ganham mais de cinco salários mínimos por mês, a maior renda desse segmento no país. Também são os mais escolarizados: 29,1% têm nove anos ou mais de graduação, enquanto a média nacional é de 13,5%.
A pesquisa “Idosos no Brasil: Vivências, Desafios e Expectativas”, realizada pelo Núcleo de Opinião Pública da Fundação Perseu Abramo em abril de 2006, que cobriu 204 municípios brasileiros e ouviu 3.759 pessoas, mostra que no país um número irrisório de idosos freqüenta algum tipo de curso de educação formal e a maioria prefere se informar pela televisão. Mas, com o aumento da longevidade e da qualidade de vida na terceira idade, essa realidade parece se transformar aos poucos.
A busca por cursos tanto formais (que concedem certificações ou títulos, as graduações) como informais (voltados para habilidades específicas e geralmente com menor tempo de duração) cresce e a oferta de estabelecimentos voltados para a terceira idade, também. Pelos jornais e nas ruas é possível encontrar várias opções para este público com cargas horárias mais flexíveis e atrativos específicos.
Há universidades que chegam a oferecer descontos de até 50% nas mensalidades. Algumas entidades formam grupos e disponibilizam programas gratuitos que vão de cursos de artesanato aos de línguas estrangeiras e informática, entre outros.
A psicóloga clínica e arteterapeuta Maria Auta Siqueira diz que, para os idosos, envolver-se com uma atividade é importante, pois pode ser como encontrar nova motivação para viver. “Em atividades como estudo, por exemplo, eles podem revitalizar a mente, a memória e a própria socialização”.
Maria Laís Mousinho é um exemplo de quem não desiste de aprender. Ela sempre esteve voltada para a educação. Recebeu homenagens e prêmios nacionais e internacionais pelos trabalhos desenvolvidos como pesquisadora. Foi uma das primeiras militantes da criação da universidade para a terceira idade no Brasil, que oferecesse formação para os idosos com vagas que abarcassem alunos e professores dessa faixa etária. Inconformada com a falta de opções nos anos 70, viajou ao Rio Grande do Sul para se tornar doutora em Antropologia pela Universidade Católica do Estado.
Aos 85 anos, Maria Laís acredita que os idosos que voltam a estudar geralmente escolhem atividades que gostariam de ter realizado anteriormente. “A gente fica mais feliz e abre não só a cabeça como também a dos jovens pela reciprocidade advinda do convívio”. Maria escreve artigos e pretende publicá-los. E já pensa em fazer curso de informática. “A gente não vive sem o computador”.
A aposentada Léya Guedes Pereira, 75, procura sempre estar informada. Explica que, ao longo da vida, não teve tempo para estudar, pois trabalhava o dia inteiro e à noite cuidava da casa, dos filhos e do marido. Mas, desde que se aposentou, procurou recompensar. Fez cursos, viajou pelo mundo e lê livros, jornais, revistas e assiste aos noticiários da TV. Eventualmente, participa de um cursinho na igreja ou em outros lugares como a UnB. Para ela, é importante o idoso estar atualizado. “A gente sempre pode aprender coisas novas”.
Há oito anos, uma parceria entre a Secretaria de Ciência e Tecnologia e o Serpro leva a inclusão digital a idosos pelo programa intitulado Geração Três. Mais de 700 pessoas tiveram acesso ao curso e 621 concluíram, contabilizando 57 turmas formadas desde o início das atividades. Hoje, o programa tem quatro turmas simultâneas: duas no período matutino e duas no vespertino. A duração é de 40 horas/aula divididas em uma hora por dia, de segunda a sexta-feira.
As turmas são formadas por no máximo 18 alunos que chegam sem noção alguma de informática e têm a chance de conhecer desde a parte física dos computadores (hardware), à utilização de aplicativos como windows, word, aprendem a navegar na internet e a passar e-mails.
De acordo com o coordenador do programa, Mário Sérgio Pereira, mais do que aulas, os alunos têm a oportunidade de se socializar. “É a inclusão digital e social que os força a sair de casa, a ver coisas novas, fazer amigos e bater papo”.
Ethelzifa Antunes de Lima, 71, foi uma das alunas do Geração Três. Ela recebeu o certificado na última semana. Agora, poderá realizar pesquisas na internet. “Até crianças de dois, cinco anos dominam a máquina, por que não a gente também?”, brinca.
ComuniWeb, Thiago Lucas, 28 de setembro de 2007