A união de forças em direção à LGPD
Márcio Zilli, consultor de processos de negócios, reforça a importância de um time multidisciplinar quando se trata de aprimorar a governança, os processos e a segurança em prol dos dados pessoais
29/11/2019
Creio que a LGPD veio na hora certa, para os ajustes necessários às condições com que estamos sujeitos a conviver: exposição excessiva de privacidade; diversidade natural de culturas; “drama” das políticas governamentais e públicas; (correta) inovação tecnológica que escancara todos os conteúdos; big data e o cardume de nossos dados pessoais, misturados às várias possibilidades e cenários, num furacão que não vemos o fim.
E a palavra central é drama – pois temos que conviver com o poder de mando que muitas vezes está nas mãos de lobbies e “tendências” ideológicas/políticas que não sabemos para aonde, de fato, caminharão.
Para entender isto, de forma global, coloque em um mesmo caldeirão a sociedade islâmica, países ainda em turbulências e descontroles sociais ou políticos, mais o mundo dos hackers sendo manipulado por todas as tendências e vontades – criminal, política ou ideológica, numa tecnologia que inova e avança não em ritmo de maratona, mas de 100 metros rasos. Que caldo sairá daí, na frente, nem o melhor visionário ousaria prever.
Se você está no meio disto tudo, no Brasil, na turbulência em que vivemos e, ainda, dirige um negócio que está submetido a todas a intempéries que a economia está sujeita e à República, que sonolenta se arrasta nos últimos 130 anos: você é um herói! E te alerto uma coisa – até o Batman precisava do apoio de um Robin, Superman ganhava uma “pata” de seu fiel Krypto, Zorro do seu fiel mordomo mudo (isso é para os amigos da minha geração). Portanto, mesmo os heróis necessitam de ajuda.
Pesquisas recentes informam que em algumas capitais brasileiras quase 90% das empresas sequer sabem de que se trata esta tal da LGPD, e mais de 85%, na média, nem pensam em começar a se mexer para as adaptações necessárias. Daquelas que ainda não se preocuparam com isto, sequer imaginam os processos que necessitarão criar para regular a troca de dados naturais com seus parceiros de negócios. Desconhecem as penalizações e as consequências em seus negócios. Isso é de muita e grande preocupação, pois a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais obriga que as empresas, além de cumprir a lei, adotem as medidas que comprovem o seu cumprimento.
O que fazer?
Para começo de conversa, nada melhor que discorrer sobre qual o modelo ideal para iniciar essa transformação indispensável de ajuste à nova demanda que a LGPD nos coloca. Vale, por exemplo, ter uma breve noção dos modelos aplicados na Europa, a qual em maio de 2018 adotou a governança pela GDPR: time multidisciplinar; colaboração entre tecnologia, processos de negócios e jurídico; complexa governança da privacidade; processos orientados a dados; transparência.
"Muitas empresas pensam em inovar, em 2020, por receio de deixar a concorrência avançar. Mas se um empresário age por medo, e não para fazer diferente e melhor, já está muito errada a estratégia adotada"
Uma responsabilidade e um preparo maior são necessários por parte das empresas brasileiras, não apenas em relação à segurança de seus próprios ambientes de tecnologia, mas também à escolha de parceiros e fornecedores que estejam em acordo com a nova legislação.
Quando começar?
Ontem, já, agora. Ou seja, semana que vem já está em atraso. Empresas pensam que têm que se preparar para no futuro ter agentes de tratamento, sem perceber, que isto não é para o futuro. Sua empresa tem que estabelecer e corrigir sistemas e processos internos já. Se ela, ou mesmo você, possui um site, uma aplicação na nuvem, folha de pagamentos externa, seguros de vida de funcionários, entre outras coisas, já há a necessidade de gerenciar os agentes de tratamento. E há vários aspectos a serem ajustados, processos a serem definidos, e sistemas a serem corrigidos.
Importante lembrar que todo este esforço é para a proteção contra vazamentos, evitando invasões, inibindo ataques e roubos de dados. Portanto, fundamental ter uma excelente proteção que seja de nível empresarial, descentralizada, fácil de implementar, conveniente e que permita níveis de proteção para tornar o negócio de sua empresa ainda mais seguro.
Receio e resultantes
Li, em um de vários artigos, que muitas empresas pensam em inovar, em 2020, por receio de deixar a concorrência avançar. Mas concordo com o autor do artigo, que lamento não ter registrado, que se “um empresário age por medo, e não para fazer diferente e melhor, já está muito errada a estratégia adotada”. Como se diz, o “medo é mau conselheiro”, ao que acrescentaria, e um mau indício de início. O medo inibe o raciocínio, e se ele tenta tomar conta do emocional, o melhor é cuidar e agir com todas as forças contrárias e impondo ousadia e iniciativa. Pois quanto mais o medo domina, menos capacidade de raciocínio, equilíbrio emocional e coragem. Portanto, finalizando este momento psicológico: usar o medo, nem que seja lá no íntimo, é um argumento triste e pobre.
Sejamos ricos e felizes em nossas intenções, e riqueza eu uso aqui no sentido de criação, que ao meu ver é o principal objetivo dela.
Além de um elemento concentrador e focalizador das tarefas necessárias ao remodelamento dos processos internos, adiciono a este receituário a busca em alicerçar e unir bases de dados mais adequadas aos processos de negócios, objetivando as necessárias inovação e melhorias. É importante ousar e unir o jurídico, estudiosos de RH, diretores com visão estratégica, tecnologia, infraestrutura, segurança, gestores de processos de negócio. Isso pode gerar boas "forças resultantes" nos ajustes que os negócios e a LGPD exigem.
Falando em resultantes, minha memória - que não está tão complicada, ainda, apesar de requerer cada vez mais registros organizados para continuar me levando pela vida - trouxe a lembrança dos meus jovens anos, quando a Física era um dilema complexo em minha vida estudantil, enquanto eu descobria na matemática, português e história um brilho mais prazeroso. E a Física me trouxe agora um flash de forças resultantes e, pela glória divina, o Youtube, somado a pesquisas no Google, me ajudou a ver que minha afirmação acima pode ser aqui usada.
Então, aproveito para finalizar com essa definição da Física: "A força resultante de um sistema de forças consiste no efeito produzido por uma força única, capaz de produzir um efeito equivalente ao das várias forças aplicadas ao corpo”. Possamos, então, criar as forças resultantes, e necessárias, harmônicas, para seguir esse fluxo de sucesso em nossos negócios.
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